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A população mais idosa constitui o segmento de maior risco na pandemia que enfrentamos. Começou, esta segunda-feira, a operação de despiste da Covid-19 em todos os lares nos concelhos de Lisboa, Aveiro, Évora e Guarda. Uma ação promovida pelo Governo, em parceria com a Cruz Vermelha Portuguesa e o Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa.
Se os mais velhos são, desse o início, uma “bomba-relógio” da crise sanitária, merecendo alertas de diversas entidades, não compreendemos por que razão é que, depois dos profissionais de saúde, este grupo etário não teve, no imediato, uma atenção e uma proteção redobrada.
Todos os dias, há notícia de mais de novos casos de infeção de utentes e funcionários de lares e IPSS.
Estranha-se, pois, que um alegado plano nacional haja excluído, ou pelo menos não tenha conferido prioridade ao Porto e ao Norte, precisamente a região do País, onde se regista o maior número de casos de Covid-19 e onde existe, também uma maior exposição da exposição sénior, como são exemplo Porto, Vila Nova de Gaia, Maia, Gondomar ou os casos específicos Ovar e das instituições de Vila Real, Vila Nova de Famalicão ou de Resende. Afinal, qual foi o critério?
Parece que o País, nem em pleno estado de emergência tem a humildade de ser ter em conta o todo e a coesão territorial, em nome da solidariedade que o momento impõe.
Outro facto que também não deixa de ser estranho é o plano disponibilizar apenas 10 mil testes, claramente insuficientes, para uma população de 800 mil idosos em situação de internamento.
Por outro lado, foi em 2 de março que Portugal registou o primeiro infetado do novo coronavírus, mas só a 30 de março é que o Governo pôs em prática a primeira medida preventiva, destinada àqueles que têm mais de 70 anos, a faixa etária onde, como no resto do mundo, se verifica 90% das mortes, por Covid-19. Realizar testes aos utentes e aos funcionários de lares de todo o País é estar mais um passo à frente de um vírus que explora todas as fragilidades da espécie humana, em particular o sistema imunitário mais débil, dos mais idosos.
O Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, que tem a competência sobre o funcionamento dos lares e centros de terceira idade, avançava finalmente com a medida, decalcada da iniciativa que já havia sido implementada por vários municípios. Foram, de novo, as autarquias a tomar a dianteira contra uma crise de saúde pública, onde o Estado central ora hesita ou decide tardiamente, ora até dá sinais de desnorte na adoção de medidas.
Foram os nossos pais e avós que ajudaram a erguer Portugal, e os filhos e os netos não lhes podem falhar. Temos de retribuir. Essa geração de homens e de mulheres que, para podermos hoje ter uma vida melhor, fizeram muitos sacrifícios. Por isso, é nosso dever protegê-los, com carinho, da vulnerabilidade desta epidemia, em nome de tudo o que nos deram. Como se já não lhes bastassem as limitações físicas, as doenças e incapacidades crónicas e, tantas vezes, a solidão.
Dentro dos constrangimentos e das limitações impostos pelo estado de emergência, é um imperativo de consciência apoiar aqueles que mais precisam de nós. A ciência, por um lado, e a solidariedade, por outro, são as melhores armas para vencer esta guerra.
Os idosos são um ativo do nosso percurso de vida, de que não podemos abdicar.
Artigo publicado originalmente no Povo Livre.