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Há cumplicidade da esquerda em esconder a suspeita “fortíssima” de que a CGD foi colocada ao serviço de crimes. O Governo brinca com a vida das pessoas, os cortes passaram a cativações, está esgotado e não tem uma estratégia para o futuro, afirma Hugo Soares, presidente do grupo parlamentar
“Chegámos a uma posição de pré-bancarrota e a precisar de pedir ajuda aos nossos credores externos, porque vivíamos uma ilusão”, lembrou esta quinta-feira o líder parlamentar do PSD, Hugo Soares. “É essa ilusão que eu não quero que este Governo volte a criar, mas que temo que esteja a criar”, assinalou numa entrevista ao ECO, em que abordou vários assuntos: carreiras da função pública; Orçamento do Estado (OE); Plano B do Governo; dividendos do Banco de Portugal (BdP); Caixa Geral de Depósitos (CGD); e crise.
“As pessoas têm de ter memória”, reforçou Hugo Soares a propósito das carreiras na Função Pública. Lembrou, uma vez mais, que as carreiras foram congeladas pelo próprio Partido Socialista que criou, ainda, a norma mediante a qual o tempo de congelamento não contaria aquando do descongelamento. “Repetidamente, todos os anos (incluindo o BE e o PCP nos últimos dois anos) aprovaram-se Orçamentos de Estado” nos quais constava essa mesma norma.
Defendeu, assim, que o atual Executivo está a “brincar com as pessoas”. “Mudou de posição durante um só dia umas cinco ou seis vezes, ora pela voz da secretária de Estado, ora do ministro das Finanças, ora do primeiro-ministro”, disse, argumentando: e “tudo para poder fugir pelos pingos da chuva”.
Para Hugo Soares, o facto de o Governo remeter o assunto para a próxima legislatura prova a existência de “um padrão do PS: deixar as faturas e as dívidas para quem vier à frente”. Importa, tal como o PSD tem veiculado, averiguar se há condições para que o descongelamento possa ser feito. “Obviamente que é justo que essas pessoas possam ver o tempo contado nas progressões de carreira”, esclareceu, recordando que o PSD já tinha defendido o descongelamento.
“Não admitimos é esta lógica demagógica”, assegurou, acrescentando que “o Governo criou um problema, com os partidos que o suportam, de gestão de expectativas”. Por isso, “não pode esperar é que seja o PSD a resolver um problema que criou”, explicou. “É o exponente máximo do ridículo vir o PS pedir ao PSD para ter responsabilidade e não alinhar com o PCP e o BE”, criticou, recomendando “uma reunião da geringonça para que se possam entender”.
OE: “é difícil remendar ou endireitar” estratégia da geringonça
Sobre o OE para 2018, o líder parlamentar deixou claro que “surge de uma estratégia que vem desde 2015”. Assim, “é difícil remendar ou endireitar” tanto a estratégia, como o OE. Contudo, as propostas social-democratas são um espelho do caminho diferente “que queríamos seguir”. “Apostávamos mais na criação de emprego, através da possibilidade das empresas terem outras condições para fazer o seu trabalho”, exemplifica.
“O nosso caminho era diametralmente oposto. Com reforço nos serviços públicos, sustentado no crescimento da economia e numa devolução de rendimentos que fosse gradual”, continua, recordando que já em 2009 o então primeiro-ministro (José Sócrates) aumentava os funcionários públicos e reduzia os impostos, em véspera de eleições. “Mas logo a seguir sabemos o que aconteceu: teve de cortar salários e aumentou o dobro dos impostos que tinha diminuído”, realçou em jeito de alerta.
O OE para 2018 assemelha-se, segundo disse, a uma “construção de legos”, feito “a três mãos”, próprio de um Executivo cujos partidos que o formam partilham “uma lógica comum”: “afastar o PSD do poder e manter António Costa” que “não teria outra sobrevivência política depois de 2015 e do resultado eleitoral que teve”.
Plano B: “Esta política apressada paga-se”
Apesar da conjuntura favorável (política monetária do BCE, preço do petróleo, crescimento de países parceiros) e do impacto do Turismo, “o ano de 2016 foi um ano de crescimento inferior ao ano de 2015”, assinalou o presidente do grupo parlamentar do PSD. “Esta política apressada de repor rendimentos sem a devida prudência e sem a devida cautela paga-se”, afirmou, salientando que o atual Executivo “teve mesmo um plano B” que não assumiu.
O Executivo “deixou de falar de cortes. Começou a falar em cativações”, denunciou. “O Governo tem o hábito de fazer ilusionismo com as palavras para criar uma perceção diferente nas pessoas”, defendeu, argumentando que “para poder ter uma política que vá ao encontro da manutenção do poder, teve de adotar um plano B e cortou nos serviços públicos”. Assim, para o líder parlamentar, e PCP e BE “são responsáveis pelas opções políticas”, já que votam ao lado de quem governa.
BdP: “É preciso ter cuidado na forma como o PS está a olhar para os dividendos”
“O PS tem feito uma espécie de ‘rapar o tacho’ nos dividendos do Banco de Portugal (BdP) para poder compensar outras coisas no Orçamento”, alerta Hugo Soares, salientando que “é preciso ter cuidado na forma como o PS está a olhar para os dividendos do BdP”. Confirmou, assim, que esta é uma forma “bem diferente” da do PSD, de olhar o sistema financeiro.
CGD: “O regime jurídico dos inquéritos parlamentares deve ser alterado”
O líder da bancada social-democrata acusou o PS de ter instrumentalizado a Caixa Geral de Depósitos, colocando-a “ao serviço de negócios”. “A recapitalização da Caixa, por uma questão de ambição do acionista e da administração que escolheram, não a teríamos [PSD] feito”, assegurou. “Teríamos poupado esse esforço aos portugueses. Capitalizámos a Caixa em 2012 e nunca teve problemas de solvabilidade, nem de cumprimento de rácios porque não tivemos mais olhos do que barriga. E garantimos que a Caixa estava ao serviço da economia”, lembrou.
Classifica de “um dos maiores atentado que se fez à democracia” o condicionamento que houve no apuramento da verdade a propósito da comissão de inquérito à CGD. “Aquilo que aconteceu foi muito além da vergonha”, diz, admitindo que “o regime jurídico dos inquéritos parlamentares deve ser alterado”. Avançou, assim, que o PSD vai “apresentar um projeto que reveja o Estatuto do Regime Jurídico do Inquérito Parlamentar”.
“A maioria de esquerda proibiu que se descobrisse aquilo que aconteceu na Caixa Geral de Depósitos, aquilo que custa cerca de quatro mil milhões de euros aos contribuintes portugueses”, lembrou. “Hoje sabe-se — eu vou dizê-lo sem rebuço — depois de um conjunto de processos judiciais, que até foram tornados públicos, que há realmente fortes, fortíssimas diria, suspeitas de que a CGD foi colocada ao serviço de crimes”, denunciou.
“O PSD no Governo fez aquilo que nunca ninguém tinha feito: foi dizer que não a Ricardo Salgado”, esclareceu. “Orgulho-me muito dessa decisão de Pedro Passos Coelho. Creio que o tempo não só lhe deu razão, como mostra bem que foi o primeiro-ministro que teve a coragem de acabar com um conjunto de privilégios e oligarquias que havia em Portugal”, sublinhou.
Crise: “é nos ciclos favoráveis que nos devemos acautelar para quando as coisas correm mal”
“As crises virão sempre”, salientou. “Depois depende como é que os países estão ou não estão preparados para lidar com elas”, afirmou para logo acusar o Executivo de ser “absolutamente irresponsável nessa matéria”. Segundo sublinhou, “é nos ciclos favoráveis que nos devemos acautelar para quando as coisas correm mal”. Para o presidente da bancada social-democrata o OE apresentado “espelha” que “este é um Governo do dia-a-dia” e marca a diferença para com o PSD. “Todos os nossos Orçamentos visavam preparar o futuro, dar um horizonte e uma estratégia ao País”, referiu.