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Desde a passada semana que os portugueses assistem ao circo mediático em torno do secretário-geral e deputado do PSD, José Silvano, porque uma colega utilizou a sua password de acesso ao sistema informático da Assembleia da República para consulta de ficheiros, e com esse simples ato registou automaticamente a presença do deputado, que se encontrava em trabalho político longe do Parlamento.
Atentemos aos "verdadeiros factos": Nos dias 18 e 24 de outubro José Silvano esteve na AR mas, de tarde, não participou nos plenários. No dia 18 presidiu a uma reunião da 1.ª Comissão, e no dia 24 esteve na reunião do Grupo Parlamentar do PSD, tendo em ambos os casos assinado a respetiva presença. Só por isto, como deputado tinha direito a receber as tão faladas senhas de presença (2x69€), independentemente de vir ou não a estar presente no plenário, bastando-lhe, para tal, justificar as faltas, recorrendo à figura de trabalho político, que era efetivamente o que ele estava a fazer.
Cai assim a tese da motivação económica. Segue-se, portanto, a tese da motivação desconhecida por as faltas aos trabalhos do plenário não terem sido justificadas antes. Importa esclarecer que os deputados só justificam as faltas depois de receberem um documento justificativo da Mesa da AR, que, neste caso, não podia ter sido enviado, porque a presença estava registada. Recorde-se que sempre que um deputado tem trabalho político no exterior, esse facto é justificativo para as faltas aos trabalhos das comissões ou do plenário.
Resta a questão da partilha da password individual de acesso ao computador. José Silvano garantiu que não pediu a ninguém para marcar a sua presença, e a colega que acedeu ao seu computador confirmou que o fez por sua iniciativa para acesso a alguns ficheiros e, como se sabe, num dos dias fê-lo mais do que uma vez, o que demonstra que não era para registo de presença; colega que, aliás, tendo estado nas mesmas reuniões matinais que Silvano, sabia que ele não precisava de marcar presença no plenário desses dias para receber o que quer que seja.
Conclui-se assim que a desproporção entre o circo montado em tomo deste episódio, quando comparado com a gravidade do mesmo, só pode ter como perverso objetivo político fragilizar o secretário- -geral, e através dele o líder do PSD - que se fosse um político igual aos demais, teria, de imediato, crucificado Silvano, para empunhar cruel e hipocritamente a bandeira da ética e da seriedade.
É assim que se continua a degradar a depauperada democracia, manchando um homem de bem que, na realidade nada de malfez e escondendo-se, assim, os que fazem o que Silvano não fez. Lá dizia António Aleixo: "Sei que pareço ladrão / Mas há muitos que eu conheço / Que não parecendo o que são / São aquilo que eu pareço".
Artigo de opinião de Salvador Malheiro, publicado originalmente no Jornal de Notícias no dia 16 de novembro de 2018.