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A inteligência artificial veio desafiar a nossa forma de estar no Mundo, permitindo-nos atingir uma nova dimensão, inalcançável apenas através de seres humanos. Já contribuiu para se ganharem eleições. Não podemos, nem queremos, fechar os olhos a este fenómeno disruptivo.
A estratégia de utilização dos dados psicométricos* foi crucial na última campanha para as eleições presidenciais americanas. Enquanto Hillary Clinton apostou fortemente na utilização de dados concentrando-se essencialmente em conquistar os eleitores indecisos, Donald Trump fez diferente: a sua campanha inovou ao ignorar os indecisos, usando a psicometria para identificar os seus apoiantes, bombardeando-os com informações que ampliassem a rejeição da adversária, favorecendo-o comparativamente.
Como ficou evidente no escândalo pelo uso não autorizado de dados por parte da Cambridge Analytica e do Facebook, trata-se de uma ferramenta que multiplica de forma exponencial o alcance potencial de campanhas de propaganda, podendo levar também à desinformação.
O fenómeno de implementação da inteligência artificial em campanhas eleitorais, nas decisões públicas e na política em geral é inevitável. Andamos preocupados com inúmeros assuntos internos, nacionais e internacionais… alguns, sem dúvida, importantes, outros nem por isso... No entanto, não podemos deixar de estar atentos à quarta revolução industrial, que caminha a passos largos e vai ganhando espaço.
Temos outros exemplos recentes: nas últimas eleições presidenciais na Rússia, a candidata “Alice”, construída pela Yandex, com o slogan “o sistema político do futuro”, ainda conseguiu nomeação com 25.000 votos.** E em abril de 2018, nas eleições de Tama, que pertence à região de Tóquio, o candidato “Michihito Matsuda” com o slogan ”A Inteligência Artificial vai mudar a cidade de Tama”, apesar de robot, conseguiu ficar em terceiro lugar com 4.000 votos.
Na Nova Zelândia está a ser desenvolvida a “SAM”, com o objetivo de ser a primeira política virtual do Mundo. Tudo indica que será candidata em 2020 e já se encontra em campanha no seu site na internet*** onde tem vindo a partilhar as suas posições sobre as diferentes áreas de intervenção política e se encontra a aperfeiçoar o diálogo com os cidadãos.
Além destes candidatos “virtuais” ainda em desenvolvimento e que não são levados a sério, em 2017 a empresa americana Kimera Systems, anunciou a criação do Nigel, um sistema de inteligência artificial, que se baseia nas preferências pessoais de cada cidadão para o ajudar a identificar em quem deverá votar nas eleições.
Ainda estamos no campo dos ensaios, dos testes e das experiências.
Sucede que, é hoje que os dados estão a ser lançados e tudo se desenvolve a um ritmo rápido. Ou estamos atentos, ou qualquer dia deparamo-nos com problemas que poderíamos e deveríamos ter antecipado.
É importante promover-se uma discussão séria sobre a implicação e os efeitos que o avanço da inteligência artificial, nomeadamente os processos automatizados, poderão ter tanto a nível político, como económico, social e ético.
O crescimento da inteligência artificial tem o potencial de nos oferecer um futuro mais descontraído e emancipado, mas nunca poderemos deixar de lado a essência da humanidade, o valor essencial da pessoa humana e ponderar bem os casos em que o outsourcing das funções humanas se justifica e como nos poderemos preparar para ela enquanto sociedade.
O PSD deveria estar na linha da frente, desde a primeira hora, a refletir, atuar e atualizar-se nesta nova realidade.
Catarina Rocha Ferreira
Presidente da Comissão Nacional de Auditoria Financeira (CNAF)
*A psicometria é uma área da psicologia que utiliza modelos matemáticos para identificar cinco fatores de avaliação das pessoas: nível de extroversão, grau de foco, abertura a novas experiências, estabilidade emocional e sociabilidade.
**https://themoscowtimes.com/news/artificial-intelligence-robot-alisa-nominated-for-russian-president-59845
*** http://www.politiciansam.nz